Letieres Leite

“Eu sempre falo que a dança vem antes da música. Eu não consigo reger nem dar aula sem dançar.”

São numerosos os trabalhos em que o maestro, compositor, saxofonista, flautista e educador baiano Letieres Leite imprimiu a marca de sua “dança”.

Definido por Gilberto Gil como “multiartista interessado em promover resgates e impulsionar avanços na música da Bahia e do Brasil”, Letieres colaborou com um vastíssimo rol de artistas, no qual figuram o próprio Gil, Hermeto Pascoal, Caetano Veloso, Timbalada, Paulo Moura, Maria Bethânia, Naná Vasconcelos, Daniela Mercury, Olodum, Toninho Horta, Lenine, Ed Motta, Lulu Santos, o percussionista marroquino-senegalês Mokthar Samba, a banda Hip-Noses, o Quinteto Glenn Fischer e Ivete Sangalo (para quem arranjou diversas canções que se tornariam hits). 

Letieres chegou a frequentar por três anos o curso de Artes Plásticas na Universidade Federal da Bahia, mas concomitantemente iniciou seus estudos em música. 

Em 1985, ingressou no Franz Schubert Konservatorium, passando então a viver em Viena até 1994. Nesse período, apresentou-se em vários festivais na Europa e no Brasil.   

 Regressando a Salvador, o músico aprofundou um trabalho pedagógico focado na rítmica afro-baiana do qual nasceram a big band Orkestra Rumpilezz e o Laboratório Musical Rumpilezzinho. 

Até mesmo o neologismo que batiza a Orkestra (contração dos nomes dos tambores do candomblé – rum, pi e lé – com “jazz”) e a disposição do grupo no palco (percussão à frente dos sopros, invertendo o modo de organização cênica das tradicionais orquestras e big bands) evidenciam o compromisso do criador com o que chamou de Universo Percussivo Baiano (UPB). 

São três os álbuns da Orkestra: Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz (2009), A Saga da Travessia (2016) e Moacir de todos os santos (2022). Além deles, há o DVD Rumpilezz visita Caymmi, fruto do espetáculo homônimo de 2015.

Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz (Biscoito Fino) rendeu à Rumpilezz o Prêmio da Música Brasileira 2010 nas categorias Melhor Grupo Instrumental e Revelação do Ano, o Prêmio Bravo! 2010 como Melhor CD Popular e o destaque como Medalha de Ouro à Qualidade do Brasil pelo Prêmio InterMarketing. 

A Saga da Travessia (Selo Sesc), foi incluído na lista dos 10 melhores discos de 2016 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), e em 2017 foi o único vencedor de três categorias no Prêmio da Música Brasileira: Melhor Arranjador, Melhor Álbum Instrumental e Melhor Grupo Instrumental.

A big band marcou presença em diversos festivais mundo afora: Europália (Bélgica) e Moers Festival (Alemanha), Music Meeting (Holanda), San Jose Jazz Festival e Lincoln Center Out of Doors (New York), Hollywood ArtsPark Fest (Miami), Philadelphia Jazz Project e San Francisco Jazz Center – Summer Festival.

Paralelamente, o maestro desenvolveu junto a outros educadores, a partir de uma nova abordagem pedagógica não eurocêntrica, o projeto Rumpilezzinho, voltado para a formação de jovens músicos de Salvador. Ademais, expôs seu novo método em inúmeros cursos e palestras no Brasil e mundo afora, com destaques para a residência no Berliner Jungend Jazz Orchestra; as oficinas no Conservatório de Música de Havana, no San Jose Jazz Festival, na UNIRIO, na Universidade do Rio Grande do Sul, no Conservatório Musical Souza Lima (São Paulo) e no Museu de Arte da Bahia; as master classes no City College of New York e na New York Library for the Arts.

Em junho de 2019, nossa gravadora Rocinante lançou O enigma Lexeu, álbum do Letieres Leite Quinteto com novo repertório autoral a um só tempo jazzístico e alicerçado no UPB. Poucos meses depois, foi a vez de Canção da cabra do compositor e cantor Sylvio Fraga, assinado em conjunto com o autor dos arranjos: Letieres.

 Lançamos em 2022 Moacir de todos os santos, o terceiro disco da Orkestra, em que sete das clássicas “Coisas” compostas pelo pernambucano Moacir Santos ressurgem em arranjos originais do baiano. “É como se a gente convidasse o Moacir pra passear em Salvador pelos terreiros das diversas nações de candomblé“, disse ele em 2019.  

Esse trabalho vem a público poucos meses depois da súbita morte do maestro aos 61 anos de idade, em outubro de 2021. Caetano escreveu então que “a música perdeu hoje um dos seus maiores formadores. A vida perdeu um dos seus mais dignos representantes”; Emicida afirmou que ele era “o encontro perfeito entre a profundidade, a virtuosidade e a generosidade em tudo que se atreveu a fazer”; Ed Motta arrematou: “capítulo único na música do mundo”. 

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Fotografia: João Atala

Moacir de todos os santos

Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz

R014 | maio 2022

Canção da cabra

Sylvio Fraga Quinteto e Letieres Leite

R006 | agosto 2019

O enigma Lexeu

Letieres Leite Quinteto

R004 | junho 2019

Fotografias: João Atala